terça-feira, 3 de agosto de 2010

Primeiro campeonato "Skate na Velocidade" reúne lendas do downhill

"Competição realizada em Santana do Parnaíba (SP) teve atletas a 130km/h na ladeira. Veja vídeo com melhores momentos"

Por Larissa Drumond, iG São Paulo

Skatistas de todo Brasil se reuniram na Av. Brasil, em Santana de Parnaíba (SP), para o primeiro campeonato de downhill “Skate na Velocidade”. “Estamos engajados para fazer um ótimo evento, inclusive inserindo-o no calendário da cidade”, afirmou o prefeito Silvinho Peccioli. Debaixo de sol quente e hard core nas caixas de som, moradores, curiosos e amantes do esporte assistiam aos 140 atletas percorrerem os 500 metros de ladeira. “É o equivalente a estar na velocidade de um carro com uma tábua de 1 metro. É como se eu pegasse meu carro, abrisse a porta e me jogasse lá de dentro”, comenta Thiago Nievola, competidor curitibano de speed.

As modalidades do campeonato realizado no domingo (1) foram speed (stand-up), giant slalom e slide – todas na categoria amadora e profissional, exceto o slide que foi representado apenas por amadores. As duas primeiras são válidas pelo ranking brasileiro e pelo Bolsa Atleta, do Governo Federal. “Tivemos que fechar uma ladeira, formar parceria com a prefeitura e fazer uma boa divulgação. Não é simples realizar e custear esses eventos”, lembra Ricardo Guedes, competidor e um dos organizadores.

Com o objetivo de alcançar a maior velocidade possível sobre shape e rodas maiores do que o convencional, o speed é considerado a “Fórmula 1” e o carro-chefe do torneio. O giant slalom é similar àquelas provas de ski em que se deve desviar das bandeirinhas, que, no caso, são cones – a cada um derrubado, o competidor é penalizado no seu tempo final. Por fim, o slide conta com um skate menor para completar manobras, que lembram coreografias de hip hop e break.

João Ogawa viajou de Maringá (PR) até Santana de Parnaíba para competir no speed. Chegou às 6h e desceu a ladeira pela primeira vez às 9h. “O princípio básico é a velocidade e existem muitos adeptos onde eu moro”, conta. Também vindo do Paraná, o curitibano Thiago Nievola escolheu a modalidade há dois anos e confessa que a maior dificuldade são mesmo as curvas. “Eu preciso entrar e frear com o pé na hora certa, o que a gente chama de ‘footbreak’. Eu não conhecia a ladeira e fiquei muito ansioso antes de descer. Mas agora que já passei por ela é mais tranquilo”, confessa.

Trenó sem neve

Além das três categorias, ainda houve apresentação do street luge, em que o atleta desce deitado – com os pés para frente – em um treinó de rua a quase 130km/h. Gilberto Cossia (Giba), tetracampeão brasileiro e atual campeão sul-americano, trouxe o esporte para o Brasil quando viu o carrinho em uma revista especializada e, então, observou os detalhes com uma lente de aumento e construiu o seu próprio. Isso em 1985. “No fim da década de 1990, já havia alguns adeptos”.


Campeonato deu R$ 5 mil e diversos equipamentos aos vencedores

Entre eles, está André Pastori (Pulga), que também sentiu a adrenalina da ladeira de Santana de Parnaíba. “Ela é bastante técnica e rápida. É uma sensação muito gostosa”. Giba concorda, mas destaca as dificuldades das curvas. “Existem dois pontos relativamente complicados. Não tem muita visão, então é como se eu estivesse descendo no escuro. Se não fizer o traçado certo, explode no feno”.

Lamentando Rafael Mascarenhas
Após as tomadas de tempo para escolher os 32 mais rápidos no speed, começaram as baterias de quatro em quatro para selecionar os finalistas. E downhill não é só se aventurar pela rua íngreme mais perto de casa. Equipamento de segurança é fundamental. Macacão de couro, outro de lycra por baixo para facilitar os movimentos, capacete, luvas, tênis com solado extra – feito de pneu de carro ou de caminhão – e, claro, um bom skate. “É importante ter a consciência de que a velocidade é alta”, ressalta Giba.

Para quem quiser começar, os veteranos aconselham ladeiras que não sejam muito movimentadas – eles inclusive comentam a morte do filho de Cissa Guimarães, Rafael Mascarenhas, 18, atropelado no Rio de Janeiro enquanto andava de skate. “Ele poderia estar de bicicleta ou a pé, mas a tragédia acabou ligada, claro, ao esporte. Foi uma fatalidade, ele estava no lugar errado e na hora errada”, conta Pedro Barboza (Medula), profissional há 11 anos que está entre os top 16 do Brasil na categoria speed. O organizador Ricardo também lamenta. “Infelizmente, foi uma falha no momento em que ele estava se divertindo. Foi trágico”.


Gilberto "Giba" Cossia foi pioneiro do street luge no Brasil, em 1985

Mas, perigos à parte, as manobras sequenciais de Andrei Barbosa (Amendoim), ainda amador no slide, encantaram o público. Cirque du Soleil underground. “Inventei uma em que eu fico com um pé no skate e outro no ar. Só não posso cair”, diz. E é o medo de cair que estimula mais. “Até os profissionais estão errando na última curva, mas vai ser um show. Por ser um evento de um só dia, eleva bastante o nível técnico”, afirma Pedro. Thiago Ribeiro, também da modalidade speed, viajou numa van com mais doze atletas de Belo Horizonte e reforça o lema do downhill. “É o capote que fortalece”.

Skate no pé, grafite no muro
Enquanto os competidores se arriscavam ladeira abaixo, nove grafiteiros faziam intervenções artísticas. Fernando Cost (Costela) deixou a pichação em 2003 para se integrar ao grafite três anos depois, mas ainda se inspira nas letras estilizadas para compor seus desenhos. “Costumo assinar meu apelido, mas sempre com cores e estilos diferentes”. Bonga, que começou o trabalho em 1996 e hoje é um dos grafiteiros mais renomados do País, decidiu estampar o muro da esquina da Av. Brasil com um cachorro. “Gosto de brincar com realismo, mesmo que não tenha muito sentido temático. Depois vamos interagir os dois desenhos”, revela. “Grafite faz parte da cultura de rua, do hip hop, da arte e da juventude”, completa.

E o prêmio vai para...
O evento foi realizado pela prefeitura de Santana de Parnaíba (SP), por meio da Coordenadoria Municipal da Juventude (Comujuv), com apoio da Associação de Skate da cidade (ASSP) e das marcas Vital, Sativa e Skate Até Morrer. O campeonato dividiu R$ 5 mil entre os três primeiros colocados das categorias slalom e speed e deu acessórios esportivos até a oitava posição. Confira os vencedores:

Speed Profissional
1. Everton ESO; 2. Caco Ratos; 3. Silon

Speed Amador
1. Tio Chico; 2. Caio Cesar; 3. Fael

Slalom Profissional
1. Kako Max; 2. Caco Ratos; 3. Jorge

Slalom Amador
1. Fefe; 2. Bruno Alves; 3. Renato SMS

Slide Amador
1. Felipe Carvalho; 2. Artur dos Santos; 3. Cauê Mezak

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